Voluntários digitais vão expôr violações aos direitos humanos em Darfur

13/10/2016 13:45

https://anistia.org.br/noticias/voluntarios-digitais-vao-expor-violacoes-aos-direitos-humanos-em-darfur-usando-novo-projeto-revolucionario-de-crowdsourcing/

A Anistia Internacional está construindo uma rede de voluntários digitais para ajudar a revelar violações e abusos contra os direitos humanos na região sudanesa de Darfur, arrasada pelo conflito, como parte de um projeto de crowdsourcing revolucionário lançado hoje.

A plataforma interativa Decode Darfur permitirá aos apoiadores da Anistia analisar, usando apenas o celular, o tablet ou o notebook, milhares de quilômetros quadrados de imagens de satélite em partes remotas de Darfur nas quais bombardeios e ataques com armas químicas podem ter ocorrido.

“Esse é um projeto revolucionário e ambicioso que marca uma mudança fundamental na maneira como vemos a pesquisa sobre direitos humanos e que dá a qualquer pessoa com acesso à internet a chance de ajudar a expor algumas das injustiças mais graves do mundo”, disse Milena Marin, sênior do setor de inovações da Anistia Internacional.

“Temos informações que sugerem violações graves aos direitos humanos em uma grande área de Darfur, mas analisar esses dados é um trabalho longo e penoso. É por isso que estamos mobilizando as forças de nossa grande rede de apoiadores para ajudar”.

Informações confiáveis e comprovadas a respeito do impacto da violência sobre a população civil de Jebel Marra são extremamente difíceis de encontrar. As restrições ao acesso impostas pelo governo impedem jornalistas, investigadores dos direitos humanos ou agentes humanitários de conduzir qualquer avaliação dos últimos anos.

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 Apesar dessas barreiras, um relatório investigativo da Anistia publicado na semana passada revelou provas perturbadoras do uso repetido por forças do governo sudanês de possíveis armas químicas contra civis, incluindo crianças, em Jebel Marra, Darfur, durante os últimos oito meses.

Com base nos testemunhos de equipes de emergência e de sobreviventes, a organização estima que um número entre 200 e 250 pessoas pode ter morrido por causa da exposição a agentes de armas químicas, sendo que muitos desses mortos eram crianças.

“Ainda que não possamos viajar a Darfur para coletar provas, podemos obter imagens de satélite e comparar datas diferentes para determinar mudanças no cenário. É aí que entra o projeto Decode Darfur”, disse Micah Farfour, especialista em sensoriamento remoto da Anistia Internacional.

Há milhares de horas de dados para se analisar, e a Anistia Internacional está pedindo para que os voluntários digitais dediquem de cinco minutos a cinco horas, ou mais, para ajudarem a reunir provas que mostrarão, junto com as testemunhas oculares e os relatos das vítimas, que os civis foram atacados sistematicamente em Darfur.

A organização usará as provas para fortalecer a defesa junto ao governo sudanês e acabar com as violações aos direitos humanos, além de levar os culpados a julgamento. As provas também serão usadas para fortalecer o caso da organização, de que Darfur foi ignorada por tempo demais, perante as Nações Unidas, a União Africana e o resto da comunidade internacional.

 O projeto Decode Darfur inicialmente será dividido em duas fases. Durante as primeiras seis semanas, os participantes ajudarão a mapear uma ampla área remota e estéril para localizar vilas vulneráveis a ataques na região leste de Jebel Marra, em Darfur.

Na fase dois, eles vão comparar imagens de antes e depois dessas mesmas vilas para apontar quais foram destruídas. Antes de começarem a decodificar, os participantes receberão um breve tutorial para saberem pelo que procurar.

“Comparando imagens recentes com as de alguns anos atrás, poderemos mostrar onde havia casas, fazendas, escolas e poços, e o que aconteceu com esses locais desde então”, disse Milena Marin.

A ferramenta usada na plataforma Decode Darfur tem um sistema de verificação integrado, o que significa que cada imagem será mostrada a alguns decodificadores diferentes e tratada como confirmada quando eles concordarem sobre o que viram. Os pesquisadores da Anistia também farão verificações aleatórias para garantir a qualidade e a veracidade dos dados.

 ”O trabalho de nossos voluntários digitais não substitui a pesquisa rigorosa que os especialistas da Anistia estão fazendo, mas é uma excelente maneira de apoiar nosso trabalho transformando montanhas de informações bagunçadas e desestruturadas em provas de violações dos direitos humanos”, declarou Scott Edwards, analista sênior do time de pesquisa e análise tática.

“A tarefa de parar com as violações e os abusos aos direitos humanos nunca termina, mas quanto mais pessoas atenderem ao chamado, mais eficazes podemos ser. Qualquer um em qualquer lugar pode fazer parte da coleta de informações da Anistia Internacional. Você só precisa de um computador ou smartphone e do desejo de fazer a diferença”.

 Decode Darfur é o segundo projeto da campanha Amnesty Decoders, que está montando uma rede de voluntários ao redor do mundo que usam seus computadores ou celulares para avaliar grandes quantidades de dados e ajudar na pesquisa sobre os direitos humanos.

 Mais de 8 mil pessoas em 150 países participaram do primeiro projeto do Amnesty Decoders, que chamou os participantes para ajudarem a catalogar os resultados de ações urgentes passadas.